Ontem começaram as férias de inverno do Lucas. Ele tem 5 anos e uma energia recarregável a cada vez que fala “Olha, mãe”. E ele fala isso umas cem vezes no dia. E essas férias estão sendo totalmente diferentes das outras. No final, você entenderá o motivo.
Desde que comecei a empreender, em 2014, eu acreditava na capacidade da mãe de equilibrar os pratos. Todo mundo nos ensina e fala sobre isso. Mas não sei por qual motivo paramos de nos questionar sobre as coisas; é como se fosse mais fácil apenas ouvir, aceitar e seguir as regras (dos outros).
Tenho certeza de que, assim como eu, muitas mulheres decidiram empreender para ter mais tempo com os filhos. O mais irônico disso é nossa incapacidade de entender, de fato, o que significa esse tempo.
Eu achava o máximo estar mexendo panela, montando bolo, e minha filha brincando ao alcance dos meus olhos. Nunca parei para questionar o que se passava na mente dela, vivendo essa rotina comigo.
Me achava a super mãe. Afinal, estava presente.
De corpo, com certeza.
Mas e de mente? E de coração?
Quantas vezes ela disse: “Olha, mãe!” e eu olhei rapidamente, sem prestar atenção, para não queimar o brigadeiro?
Quantas vezes ela me chamou e eu disse “Já vou” umas 10x até de fato ir?
Às vezes, sentia que ela não entendia que eu fazia aquilo por nós.
E é claro que ela não entendia. Criança não racionaliza as coisas, ela entende o mundo através da interação e da experiência sensorial.
Buscamos tanto ter cada vez mais dinheiro para dar o melhor para nossos filhos, sem ter clareza do que é esse “melhor” que eles precisam. E não se iluda, coloquei uma hora de YouTube para o Lucas para que eu conseguisse escrever essa carta pra você.
Não vamos romantizar nosso empreender.
Não decidimos trabalhar por hobby, para nos sentirmos úteis. É uma necessidade cada vez mais latente nos dias de hoje. Mesmo quem tem a sorte (cada vez mais rara) de ter um bom marido que sustenta a família, honra as contas da casa e colabora com os afazeres, o dinheiro cada vez mais se torna insuficiente. E isso citando o básico. As mulheres precisam contribuir, nem que seja para um mínimo de lazer e conforto no lar. Mas a que preço?
Não estou aqui para ditar regras, sou totalmente contra isso. Cada mãe tem sua realidade, suas necessidades, suas crenças e sua visão de mundo. O que quero compartilhar com você hoje foi fruto de uma busca por autoconhecimento contínuo. E se isso te ajudar a pelo menos pensar um pouco sobre o assunto, meu objetivo terá sido atingido.
Quando decidi mergulhar em mim de verdade, rebobinar minha história com olhos “de fora”, pude ver muitas coisas com transparência. Foi como limpar a câmera e entender que o problema não era minha visão, era apenas uma lente embaçada.
A lente da nossa vida embaça o tempo todo, por vários motivos, mas cabe a nós mantê-la limpa antes de cada foto.
Na minha jornada, tive uma trajetória de crescimento. Cresci em todas as empresas por onde passei, cresci no meu negócio. Sempre tive resiliência para superar qualquer desafio ou dificuldade. Eu só demorei para entender o motivo de tanta dedicação. Acreditava que minha ambição era por status ou fortuna. E hoje sei que essa ambição era pela família. Sempre foi.
Eu sempre sonhei ter uma família. E mesmo estando casada e feliz por 14 anos, apenas no ano passado tive a noção real do que isso significa. Foi olhando com profundidade para minha alma que encontrei minha maior verdade: meu propósito é minha família. Meu legado é o que plantarei no coração deles para que floresça no futuro.
E então minhas prioridades mudaram.
Eu ainda tenho ambição. Daquelas que sonham entrar em cada casa e plantar a semente do autoconhecimento para que mais mulheres possam viver sua própria verdade e não a que nos dizem ser a melhor opção.
Vou contextualizar alguns exemplos para que você entenda o quanto limpar minha lente mudou minha vida e a da minha família.
Já contei no meu Instagram sobre uma mentoria que entrei e paguei R$ 26 mil. Eu admirava tanto a mentora que desejava ser como ela. Não igual, mas também ser vista como referência de empresária, mesmo sendo mãe (só quem é mãe sabe como é diferente empreender com e sem filhos).
Por 45 dias, me senti frustrada naquela comunidade e não sabia ao certo o motivo. Acabei descobrindo nas sessões de terapia.
Por mais que eu admirasse aquela mentora (e ainda admiro), eu não queria ser como ela.
Não sou a pessoa do milagre da manhã que acorda feliz às 5h porque preciso manter minha performance. Acordar às 7h é meu horário ideal. Sou uma pessoa noturna. Não sou uma pessoa ativa — gostaria de mudar ainda essa realidade por questões de saúde (ok, e de peso também) —, mas preciso encontrar o “meu jeito” de fazer isso. Ela ensina que crescer é delegar. Crescer para onde? Para quê?
Entendo que, dependendo da sua profissão e formato de trabalho, precisa mesmo delegar. Mas hoje cagam tanta regra que, se você diz que não quer ter funcionários, logo te julgam por ter crença de merecimento, ou de escassez... O mundo tá ficando tão chato.
Quando passei a observar de fato a vida dessa empresária, vi tudo que eu não queria pra mim. Não desejo viajar a trabalho (apenas lazer), não quero palestrar (hoje parece regra querer isso), não quero estar imersa em reuniões o dia todo. E algo ainda mais importante: não quero ter apenas uma hora por dia para brincar com meus filhos, sem permitir bagunça alguma (sim, até nisso ela “brinca” com a casa arrumada). Tá tudo bem ela ser assim, se isso a faz feliz. Mas não me faz feliz. E demorei para entender isso. Estava tão deslumbrada com a vida de outra mãe que esqueci de me deslumbrar com minha própria vida.
Ah, e como tem sido maravilhoso agradecer a Deus todo dia pela minha rotina em família.
Quando olhei para minha própria vida, entendi o quanto sou abençoada. Mesmo ainda querendo muitas coisas (capitalismo, te amo rsrs), isso me trouxe uma clareza absurda dos meus passos.
Bagagem nos prepara para ter opinião própria, e eu só entendi isso olhando para a minha história. Eu sempre fui líder, gerenciei equipes, lidei com fornecedores, parcerias etc. Quando empreendi na Confeitaria, tive funcionários, fornecedores, parcerias. Já tive sócia por duas vezes. Nas duas me arrependi.
E, de novo, isso não é um mantra para você seguir. Conheço muitas pessoas felizes com suas equipes, com sua sociedade. Isso é sobre mim. E talvez sobre você. Você pode ainda não saber.
Eu criei um mundo onde posso viver meu propósito honrando minha missão. Um mundo onde posso ajudar as pessoas no um a um, no meu tempo.
Quando foi que pessoas deixaram de ser únicas para se tornarem apenas uma escala?
Pra mim — e, de novo, essa é minha visão — escalar é a mesma coisa que dar um pão para muitas pessoas. Hoje mata a fome, amanhã a fome volta.
Quando escrevo a história das minhas clientes, não escrevo apenas como deve ser seu posicionamento de marca. Escrevo quem é ela, por um novo ângulo, sem as crenças que a limitam, mas mostrando como sua bagagem a potencializa. Isso prepara essas mulheres para fazerem seu próprio pão, independente se mudarem de ramo ou profissão. Quem sabe fazer seu pão jamais passa fome. Essa mulher irá inspirar mais mulheres a também não dependerem do pão alheio. E assim, essa corrente de autoras da própria jornada ganha escala.
Esse é o jogo que escolhi jogar. No um a um, eu consigo olhar de verdade e honrar cada história que passa pela minha escrita. E esse jogo também me permite viver a minha verdade, com coerência.
A vida entre o que eu falo, mostro e vivo é apenas uma. E disso, jamais vou abrir mão de novo.
E voltando às férias do Lucas, não digo que não vou trabalhar nem um pouco, essa carta é meu trabalho, mas, principalmente, é minha vocação. Então, não tem peso, é leve, pois escrever me tira pesos da alma, fortalece minha voz, me traz de volta pra mim mesma a cada palavra.
Mas decidi antecipar meus compromissos, entregar os dossiês Obra-prima antes do prazo e estar 100% disponível para “olhar” quando meu filho falar “Olha, mãe”.
Porque quando ele crescer, não irá lembrar quantos Nikes teve aos 5 anos, mas irá lembrar que pintávamos juntos, brincávamos de escolinha, jogávamos bola, criávamos histórias de super-heróis, fazíamos lanches deliciosos juntos.
Tenho muito tempo para me dedicar ao trabalho (aliás, comecei uma nova pós-graduação), e você ainda verá grandes coisas acontecerem por aqui. Tenho pressa, sim, mas parei de correr.
E se você pensa que essa decisão é apenas pensando nos filhos, tente, e veja o milagre acontecer com você. Nunca me senti tão criativa, conectada, abençoada, grata como agora. Decidi não equilibrar mais os pratos e, sim, carregar um por vez. Isso ajudou insanamente na minha ansiedade.
Ansiedade nos domina porque queremos viver no futuro, mas como ainda não existe uma máquina do tempo, isso é impossível. E se você vive olhando para o futuro, viverá em uma eterna busca no mundo da fantasia, igual no desenho Caverna do Dragão, se não conhece esse desenho, se atualize clicando aqui:
Será uma eterna busca “pra casa” sem sair do lugar.
A única forma de construir o futuro dos seus sonhos é vivendo o presente com atenção e intenção. Demorei anos para entender isso de fato. Parece óbvio, algo que todo mundo já sabe, mas a verdade é que poucas pessoas apreciam o hoje, o PRESENTE. Enxergar o extraordinário no ordinário é um exercício diário. Às vezes a gente falha, mas quer a boa notícia?
Cada vez que você abre os olhos, tem uma oportunidade de fazer diferente. Apenas isso mudará seu futuro.
Para aquela Chy que desde criança se expressou melhor através da escrita, ela deve estar orgulhosa disso ter se tornado sua voz no mundo através do seu trabalho.
Não quero ser uma escritora perfeita. Escrevo sem pausas, pesquiso apenas quando necessário, não uso intencionalmente gatilhos, nem me preocupo demais com a gramática. Não sou copywriter. Sou escritora de legado, de DNA (na próxima carta você entenderá).
Quando definimos o posicionamento de uma marca, precisamos definir qual posição você quer ocupar na mente do seu cliente. Isso nos faz pensar em como desejamos ser lembradas. Mas… e seus maiores clientes internos? Aqueles que, de fato, serão sinônimo do seu sucesso no futuro?
Por isso, hoje quero fazer diferente e finalizar essa carta com uma pergunta pra você, que é mãe empreendedora como eu:
Que tipo de mãe você deseja ser lembrada?
Três beijinhos,
Chy Ramirez